sex, 18 out 2024
Sociedade

Visita de princesa Diana a Angola em 1997 alertou o mundo para o drama dos campos minados, mas a tragédia continua

A Halo Trust está em Angola desde 1994 e já destruiu mais de 118.000 minas terrestres em mais de 1.050 campos minados, sobretudo nas áreas rurais, operando atualmente em seis das 18 províncias de Angola: Luanda, Huambo, Bié, Namibe, Huíla e Cuando Cubango.

Estima-se que existam cerca de 60 mil angolanos que tenham ficado mutilados devido ao accionamento ou rebentamento de minas de guerra, das quais, cerca de 40% são mulheres.

James Cowan, o responsável da Halo Trust, afirmou recentemente que, "se o país quer diversificar a sua economia, quer recuperar a agricultura, quer construir o Corredor do Lobito - que não é apenas um caminho-de-ferro, atravessa as comunidades - se quer investir no ecoturismo, e desenvolver esta capacidade como o Botsuana, não se pode ter minas terrestres. Botsuana não tem minas. A Zâmbia não tem minas. A África do Sul não tem minas. Moçambique não tem", apontou.

"Se não nos livrarmos dessas minas, não haverá confiança", insistiu o diretor da Halo Trust.

A dimensão do país é, além do financiamento, um dos grandes desafios para a operação da Halo Trust.

"É um país enorme e com minas em todo o lado", enquanto noutros países como a Ucrânia, Zimbábue ou Camboja, as minas estão circunscritas a determinadas áreas, disse James Cowan, o responsável da Halo Trust.

"O nosso trabalho é limpar todo o país, mas a questão da distância cria desafios logísticos, alguns dos lugares onde trabalhamos, no sudeste do país, na área do Okavango (rio Cubango) são extremamente remotos, as estradas estão em mau estado, é muito exigente para os veículos e para as próprias equipas", salientou.

James Cowan lembra também que Angola viveu conflitos durante décadas, primeiro lutando pela independência contra os portugueses e depois numa longa guerra civil em que enfrentou também intervenções estrangeiras da África do Sul, Cuba e União Soviética, que deixaram o país semeado de diferentes tipos de minas.

"Isso significa que os nossos funcionários têm de ser tecnicamente muito especializados, algumas destas minas são das mais perigosas do mundo", referiu, sublinhando que a desminagem é uma prioridade para o Governo angolano, que tem investido muito nestas atividades nos últimos anos.

A Halo Trust obteve em 2019 um contrato de 60 milhões de dólares para um período de cinco anos que termina no próximo ano e procura agora um novo contrato com verbas reforçadas e prazo mais alargado.

O extenso corredor do Lobito, via-férrea que se inicia no terminal do Lobito e atravessa Angola percorrendo cerca de 1.300 quilómetros até à fronteira com a República Democrática do Congo, atravessa vários campos minados, segundo o responsável da Halo, que identificou estas áreas como prioritárias.

Angola ainda tem cerca de mil campos minados

Em todo o país subsistem cerca de mil campos minados e a Halo está focada em zonas onde se concentra a população ou existe necessidade económica, tornando as áreas seguras para a prática agrícola. Ao longo dos anos, a Halo limpou mais de 5.500 quilómetros de estradas nacionais e emprega cerca de 1.600 trabalhadores angolanos nas brigadas de desminagem.

Parte desta força de trabalho é feminina. São cerca de 900 mulheres, muitas delas responsáveis pelos seus agregados familiares que conseguem assim sustentar as suas famílias e seguir uma carreira.

"É um investimento nelas e um benefício para os seus filhos", realça James Cowan, declarando-se "muito orgulhoso" do sucesso destas mulheres.

Os "desminadores" são treinados por equipas da Halo e aprendem a distinguir entre os diferentes tipos de minas, avaliando a proximidade à superfície, idade, quantidade de metal, usando detetores sofisticados.

A Halo está também a investir noutro tipo de tecnologias mais avançadas, incluindo veículos robóticos e drones e até inteligência artificial para "varrer" as imagens aéreas e de satélite fornecidas pelos drones.

"Se ensinarmos as máquinas a identificar as minas, podemos fazer a desminagem de forma mais rápida. Estamos focados na tecnologia para tornar os nossos sistemas mais rápidos e mais seguros", sublinhou James Cowan, indicando que o risco de acidentes é muito baixo.

O maior risco, acrescentou, é não fazer a desminagem. Deixar a mina no terreno representa risco para os civis e para as espécies animais, por isso grande parte trabalho da Halo é fazer a chamada educação para os riscos, sensibilizando as comunidades.

Visita de Princesa Diana a Angola alertou o mundo para a tragédia das minas

Angola teve, em 1997 e 2019, visitas da família real britânica: A princesa Diana (na fotografia) e o Duque de Sussex, Harry. A questão das minas terrestres ganhou destaque internacional em 1997, quando a Princesa Diana caminhou por um dos campos minados da HALO em Angola. Logo após sua visita, o Tratado de Proibição de Minas de Ottawa foi assinado, convocando todos os países a se unirem para livrar o mundo das minas terrestres. O Príncipe Harry seguiu os passos da mãe quando se juntou ao apelo Landmine Free 2025 e participou de um evento na Chatham House em junho de 2019 para anunciar um grande projeto de conservação em Angola, limpando as nascentes do Okavango de minas terrestres. Em setembro de 2019, o Príncipe Harry visitou o programa da HALO em Angola durante a sua viagem à África.