seg, 25 nov 2024
Internacional

Analistas consideram “frágil” o novo cessar-fogo no Leste da RDC

O novo cessar-fogo no Leste da República Democrática do Congo vai hoje no seu segundo dia, depois de ter entrado em vigor à meia-noite deste domingo, 4 de Agosto. O acordo alcançado sob mediação angolana, visa silenciar as armas no conflito entre o exército congolês e o grupo rebelde do M23, apoiado pelo Ruanda.

No terreno, segundo especialistas, este cessar-fogo está a ser vivido com cepticismo, sobretudo porque o M23 tomou uma cidade estratégica na noite de sábado. Este não é o primeiro cessar-fogo negociado desde o início do conflito, em 2021, entre o exército congolês e a rebelião do Movimento 23 de Março, que conta com o apoio do Ruanda.

Especialistas ouvidos na manhã desta segunda-feira, 05, pela Rádio Tocoísta, consideram o acordo frágil, na medida em que não contempla a outra parte conflitante, no caso, o M23.

Para o analista Osvaldo Mboko, no teatro de operações, o M23 combate as forças governamentais da República Democrática do Congo. Portanto, se uma das partes envolvidas no conflito não fizer parte das negociações que deram origem ao cessar-fogo, não há obrigação de cumprimento. Primeiro, porque não participou, e depois porque não havia nenhum mecanismo que informasse que foi consultada e que também concordou em determinados assuntos.

Isto, diz o analista de relações internacionais,  "independentemente de se criar ou não uma comissão de acompanhamento ad hoc, porque esta comissão normalmente verifica o grau de execução e cumprimento do cessar-fogo que foi acordado entre as partes, onde participaram membros dos vários partidos, da República Democrática do Congo, do Ruanda, do Estado angolano e talvez também de algumas organizações regionais, e, posso dizer também, das Nações Unidas. Mas estamos sentindo a ausência do M23. Portanto, existe esta fragilidade do ponto de vista prático do cumprimento deste acordo de cessar-fogo".

Sobre o apoio ao M23, Osvaldo Mboko destaca o facto de o Ruanda nunca ter admitido publicamente apoio à organização, facto que, na visão de Mboko, "se houver um cessar-fogo assinado entre o Ruanda e a República Democrática do Congo sobre a mediação de Angola, tecnicamente, estamos a dizer que o Ruanda e a República Democrática do Congo estão em guerra e que o Ruanda também tem apoiado o M23".

O analista, falando à Rádio Tocoísta, justificou a razão de considerar o acordo "frágil e sem grandes pernas para caminhar, e, disse, que pode criar-se mais uma desilusão do ponto de vista daquilo que tem sido a acção angolana na mediação. Mas sempre que se dá um passo no caminho diplomático é sempre melhor, porque a saída diplomática é mais honrosa, em comparação com a saída da guerra".

"E qualquer ação que vise trazer a paz e a estabilidade, todos os passos dados devem ser passos que devem ter do nosso lado uma aceitação e um olhar de que as coisas podem mudar e o caminho pode ser aberto para encontrarmos ao diálogo entre os dois chefes de estado. E este cessar-fogo pode ser esse caminho, embora repito, na minha perspectiva, continua a ser um acordo frágil, sem grandes pernas para caminhar, e pode criar-se mais numa desilusão do ponto de vista daquilo que tem sido a mediação".

Por seu turno, o também analista de relações internacionais João Dombaxe Sebastião, enaltece o papel de Angola na medição do conflito, que tornou possível o cessar-fogo. "O esforço de Angola neste diálogo sempre foi, desde o início, identificar o problema, trazer o Ruanda para a mesa das negociações e assumir as suas responsabilidades neste conflito, que o país de Kagame sempre recusou. Felizmente, Angola conseguiu trazer o Ruanda para a mesa das negociações, portanto, não é o primeiro, mas outro acordo foi alcançado, e espera-se que este dure. No entanto, a eficácia deste acordo ainda é vista com algum cepticismo, não é? Este conflito, como todos sabemos, intensificou-se no ano de 2022 e resultou no deslocamento de 1.700.000 pessoas, apenas na província de Kivu Norte. Portanto, a presença constante das forças rebeldes e o apoio do Ruanda ao M23 tem complicado a situação na região, e a mediação de Angola resultou neste desenrolar da situação na RDC".

De salientar que o novo cessar-fogo no Leste da República Democrática do Congo vai hoje no seu segundo dia depois de ter entrado em vigor à meia-noite deste domingo, 4 de Agosto. O acordo alcançado sob mediação angolana visa silenciar as armas no conflito entre o exército congolês e o grupo rebelde do M23, apoiado pelo Ruanda.