Maior troca de prisioneiros entre Rússia e Ocidente desde a Guerra Fria.
A Rússia e vários países ocidentais trocaram esta quinta-feira 24 prisioneiros. O mais novo tem 19 anos e o mais velho 71. A operação foi preparada secretamente e organizada pela Turquia. 8 prisioneiros, incluindo dois menores, foram transferidos para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os Estados Unidos. Entre eles contam-se jornalistas, ativistas políticos e opositores à guerra na Ucrânia.
Entre os russos detidos no Ocidente encontram-se alegados agentes 'adormecidos' que tinham uma vida dupla. Outros foram condenados por pirataria informática. Um foi preso pelo assassínio, a tiro, de um homem durante o dia num parque de Berlim. Esta quinta-feira saíram em liberdade, na maior troca de prisioneiros civis Leste-Oeste desde a Guerra Fria.
O presidente Putin foi ao aeroporto receber os prisioneiros libertados pelo Ocidente, enquanto o Kremlin acusava o presidente dos EUA, Joe Biden, de tentar tirar lucros políticos da troca de prisioneiros.
Donald Trump critica acordo
"É engraçado, porque nunca fazemos bons acordos em nada, muito menos quando se trata da troca de reféns. Os nossos negociadores são sempre uma vergonha para nós", escreveu o o candidato à presidência dos EUA numa mensagem na sua rede social, a Truth Social.
Trump veio a público exigir que a administração Biden revelasse detalhes da troca de prisioneiros, como o número de prisioneiros entregues à Rússia e se foi pago dinheiro a Moscovo.
A Casa Branca anunciou que foram libertados 16 prisioneiros da Rússia e, em troca, foram libertados oito prisioneiros dos Estados Unidos, Alemanha, Eslovénia, Noruega e Polónia.
Libertados pela Rússia e pela Bielorrússia
Evan Gershkovich (32 anos), repórter do Wall Street Journal, foi detido na cidade russa de Ecaterimburgo em março de 2023. Sem apresentar provas, as autoridades acusaram-no de "recolher informações secretas" a favor da CIA sobre uma fábrica de equipamento militar . Foi condenado a 16 anos de prisão.
Alsu Kurmasheva (47 anos), dupla nacionalidade, norte-americana e russa, foi detida em 2023 na sua cidade natal, Kazan, onde estava a visitar a mãe doente. É editora, baseada em Praga, do serviço Tatar-Bashkir da Radio Free Europe/Radio Liberty, financiado pelo Governo dos EUA. Acusada de não se apresentar como "agente estrangeira", foi condenada a 6 anos e meio de prisão.
Vladimir Kara-Murza (42 anos), russo com dupla nacionalidade e reconhecido opositor, foi detido em 2022 por ter criticado a guerra na Ucrânia. Colunista do The Washington Post, foi galardoado com o Prémio Pulitzer este ano. Sobreviveu a dois envenenamentos em 2015 e 2017. Foi condenado em 2023 por traição a 25 anos de prisão.
Paul Whelan (54 anos), executivo de segurança empresarial do Michigan, foi detido em 2018 em Moscovo, no casamento de um amigo. Acusado de espionagem e condenado em 2020 a 16 anos de prisão.
Andrei Pivovarov (42 anos), líder do grupo de oposição Open Russia, ilegalizado em 2021. Em 2022, foi condenado a 4 anos de prisão.
Oleg Orlov (71 anos), defensor dos direitos humanos e Prémio Nobel da Paz, detido e condenado a dois anos e meio de prisão em fevereiro por protestar contra a guerra na Ucrânia. Orlov é co-presidente do grupo de direitos humanos Memorial, galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
Sasha Skochilenko (33 anos), detida por ter substituído etiquetas de preço num supermercado por slogans contra a guerra na Ucrânia. Foi condenada a sete anos de prisão em novembro de 2023.
Ilya Yashun, ativista preso por ter criticado a guerra na Ucrânia. Antigo membro de um conselho municipal de Moscovo, foi um dos poucos ativistas da oposição a permanecer na Rússia desde a guerra. Julgado e condenado a 8 anos e meio de prisão.
Ksenia Fadeyeva (32 anos), Lilia Chanysheva (42 anos)e Vadim Ostanin (47 anos), são antigos coordenadores dos gabinetes regionais do líder da oposição Alexei Navalny, morto na prisão. Foram detidos e condenados por extremismo. Fadeyeva, , e Ostanin foram condenados a nove anos de prisão cada, e Chanysheva a nove anos e meio.
Kevin Lik (19 anos), dupla nacionalidade russo-alemã, acusado de tirar fotografias a uma unidade militar e de as enviar a um representante de um Estado estrangeiro. Foi condenado por traição a quatro anos de prisão.
Rico Krieger, médico alemão, foi cpreso na Bielorrússia por terrorismo em junho e condenado à morte. Foi indultado na terça-feira pelo Presidente Alexander Lukashenko.
Demuri Voronin, com dupla nacionalidade russo-alemã, analista político, dirigia uma empresa de consultoria que alegadamente colaborava com jornalistas. Foi detido em 2021, condenado por traição em 2023 e sentenciado a 13 anos e três meses de prisão.
German Moyzhes, de dupla nacionalidade russo-alemã, é um advogado especializado em migração que ajudou russos a candidatarem-se a autorizações de residência na União Europeia. Foi detido em maio em São Petersburgo e acusado de traição.
Patrick Schoebel, de nacionalidade alemã, foi detido em fevereiro de 2024 em São Petersburgo e acusado de tráfico de droga.
Libertados pelos países ocidentais
Pavel Rubtsov, detido na Polónia sob a acusação de espionagem a favor da Rússia desde a invasão da Ucrânia.
Roman Seleznev, filho de um legislador russo, foi condenado nos Estados Unidos em 2017 por pirataria informática em mais de 500 empresas e roubo de milhões de números de cartões de crédito, que depois vendeu em sítios Web. Foi condenado a 27 anos de prisão e a pagar quase 170 milhões de dólares às suas vítimas.
Vladislav Klyushin (43 anos), executivo com ligações ao Kremlin, foi condenado em Boston em 2023 por acusações que incluíam fraude eletrónica e fraude de valores mobiliários num esquema de quase 100 milhões de dólares que envolvia pirataria informática. Foi condenado a nove anos de prisão.
Vadim Krasikov (58 anos), foi condenado em 2021 por ter morto a tiro Zelimkhan "Tornike" Khangoshvili, georgiano de etnia chechena, num parque em Berlim. Os juízes alemães concluíram que se tratou de um assassínio ordenado pelos serviços de segurança russos. Krasikov. Foi condenado a prisão perpétua.
Mikhail Mikushin, detido na Noruega em 2022 por espionagem. A agência de segurança interna da Noruega, PST, afirmou que Mikushin entrou no país dizendo ser cidadão brasileiro, mas trabalhava para um serviço de informações russo.
Vadim Konoshchenok, oficial do Serviço de Segurança Federal da Rússia, foi extraditado da Estónia para os Estados Unidos no ano passado acusado de contrabando de munições e tecnologia de dupla utilização para ajudar na guerra de Moscovo na Ucrânia.
Artem Dultsev e Anna Dultseva, casal russo detido por espionagem em Liubliana, Eslovénia, em 2022. Declararam-se culpados na quarta-feira e foram condenados a 19 meses de prisão, tendo sido libertados com base no tempo de serviço.