seg, 16 set 2024
Política

Presidente da Associação, Justiça, Paz e Democracia considera "precipitado” processo contra general Kamalata Numa

O presidente da Associação, Justiça, Paz e Democracia (AJPD) classificou de "precipitado" o processo contra o general na reserva, da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Abílio Kamalata Numa por levantar suspeitas sobre a causa da morte de uma alta patente militar

Em causa no processo estão alegados crimes de ultraje ao Estado, seus órgãos e símbolos contra o general da UNITA devido a um texto que publicou sobre a morte, em 27 de novembro de 2022, do antigo Chefe de Estado-Maior General Adjunto para a Área Operacional de Desenvolvimento das Foças Armadas Angolanas, general Abreu Kamorteiro, levantando suspeitas sobre as causas do seu falecimento.

Serra Bango referiu que se, no texto, Abílio Kamalata Numa levantava apenas suspeições, sem afirmar categoricamente que o general Kamorteiro tinha sido vítima de envenenamento praticado por agentes do Estado - e não pelo Estado, enquanto instituição - a perspetiva "é diferente", frisando que em Angola existem várias situações em que cidadãos foram mortos por ação de agentes do Estado.

Deu como exemplos os casos de Isaías Cassule e Alves Kamulingue, ativistas mortos em 2012 por membros do serviço de informações angolano.

"Não há mal nenhum em as pessoas levantarem suspeições quanto à morte ou um facto que tenha ocorrido sobre um cidadão. Aqui não me parece que haja ultraje aos símbolos do país, temos vários exemplos desses", referiu à Lusa Serra Bango.

"Uma autópsia que eventualmente se requeira em fase de discussão do processo, se mostrar que de facto foi envenenado, de quem será a responsabilidade? O passo que o Estado dá é como que uma armadilha, um tiro no seu próprio pé", disse Serra Bango, recordando o exemplo das suspeitas sobre a morte do general da UNITA Arlindo Chenda Pena "Ben-Ben", que chegou a ocupar as funções de vice-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA), em 1998, na África do Sul.

Para Serra Bango, está-se perante "uma situação de algum excesso", frisando que suspeitas não podem dar direito a uma acusação, por serem "meras suspeitas, que podem ser ou não comprovadas", referindo que, ao longo de 2018, também se registaram outras mortes de membros da UNITA em "situações estranhas, misteriosas", como a do deputado e antigo candidato à liderança da UNITA Raul Danda.

"E o que é que se diz em relação a estes ataques que são feitos a várias caravanas da UNITA, inclusive o próprio presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, já sofreu um atentado. São elementos que engrossam as suspeições de envolvimento eventualmente de alguns agentes do Estado em querer prejudicar outros", referiu.

"Há fatores, há condições, há motivos ou comportamentos de agentes do Estado ou dos militantes do partido, que fazem com que as pessoas pensem desta maneira, por isso não me espanta", frisou, declarando que os angolanos estão a viver momentos de "muita intimidação", que fazem "recordar os últimos anos do consulado de José Eduardo dos Santos, quer com a aprovação de leis, como também no uso do poder judicial para intimidar os cidadãos".

De acordo com Serra Bango, este tipo de comentários noutras realidades do mundo são vistos como o direito à liberdade de expressão, de livre pensamento, conquanto não ofendam a dignidade e honra de uma pessoa concreta e em específico.

Abílio Kamalata Numa, que foi ouvido na terça-feira  na Procuradoria-Geral da República, disse à saída que “fui incisivo ao dizer que havia possivelmente mão humana, mas não me revi na extração que eles fizeram do Facebook, vou ver a publicação que eu fiz e depois disso juntar aos autos e voltar aqui à DNIAP [Direção Nacional de Investigação e Ação Penal]”, disse.

Em declarações à agência Lusa, o advogado de Abílio Kamalata Numa informou que o seu constituinte foi colocado sob termo de identidade e residência, com a obrigação de apresentação periódica às autoridades.

Manuel Kamuari considerou que se trata de uma medida de coação pessoal branda, salientando que o seu constituinte tem o dever de se apresentar uma vez por mês às autoridades.

Amnistia Internacional apela à libertação da 'tiktoker' Ana da Silva Miguel (Neth Nahara)

A Amnistia Internacional apelou, entretanto, à libertação da 'tiktoker' Ana da Silva Miguel (Neth Nahara), presa há quase um ano por injúrias, nas redes sociais, ao Presidente João Lourenço.

 

"As autoridades angolanas devem libertar imediatamente Ana da Silva Miguel, também conhecida como Neth Nahara, no momento em que se assinala o primeiro aniversário da sua detenção, sendo que nunca deveria ter sido presa", exigiu o diretor regional adjunto da Amnistia Internacional (AI) para a África Oriental e Austral, Vongai Chikwanda, em comunicado.

Para este representante da Amnistia Internacional, a condenação de Neth Nahara por ter cometido um "ultraje contra o Estado é absurda".