"fome não deve levar a comportamentos inadequados"
A cidade de Luanda viveu dias de tensão, por fruto de actos de vandalismo e arruaças, por conta da paralisação anunciada pelas associações de taxistas. Aproveitando-se da situação vários cidadãos saquearam diversos estabelecimentos comerciais, carros e outros meios, houve pilhagem e roubos de todo tipo, situação que levou a policia a tomar medidas para conter a situação.
Até está quarta-feira, de acordo balanço da Policia Nacional um total de 1214 pessoas foram detidas, contabilizaram-se mais de 20 mortos dentre eles um efectivo da Policia Nacional e danos matérias por calcular.
Atento a essa situação, em entrevista cedida a TPA, o Líder Espiritual da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, Santidade Bispo Dom Mayamona, abordou o momento que o País está a viver.
O Líder Espiritual, destacou que a “fome não não deve nos levar a comportamentos inadequados”, para Sua Santidade manifestação é um direito reservado constitucionalmente, por isso “manifestação sim, mas vandalismo não”.
Abaixo a integra da entrevista de Sua Santidade Pai Mayamona.
Questão: Estamos a assistir situações que em nada dignificam e contribuem para a harmonia social, enquanto alguém que dirige um rebanho, enquanto uma figura que constrói pontes, que conselhos devemos nós angolanos abraçar, para que tenhamos um país que avance?
Sua Santidade: Primeiro, dizermos que Angola está a viver um momento muito importante, 50 anos da nossa independência. Um jubileu, um jubileu de paz, de concórdia, de perdão, de conversas.
E por isso que, quando assistimos, nesses dias, a este tipo de comportamentos inadequados, reprováveis a todos os títulos, que estão a desestabilizar a vida social da população, a destruir mercados, digo, lojas, armazéns, que têm ajudado o próprio povo a sobreviver e a viver, nós, como eclesiásticos e homens de Deus, primeiro devemos repudiar este comportamento e chamar a atenção à nossa gente, aos meus concidadãos e às minhas concidadãs, de que a fome não deve levar a comportamentos inadequados, porque a fome passa, mas os actos cometidos por nós ficam eternamente. Por isso, faça-se tudo em ordem, faça-se tudo na disciplina, para que possamos construir um país melhor, um país que vai nos levar alegria a todos nós.
Apelo ao diálogo
Apelamos que haja o diálogo, haja conversações entre as partes, o Governo como responsável máximo naquilo que é a definição das políticas que conduzem o povo à felicidade, procure encontrar meios e estabelecer pontes para que possamos encontrar os responsáveis dessas manifestações e criar uma conversa, um diálogo aberto e franco, para que a atitude desse género não volte a acontecer mais no nosso país, porque não dignificam aquilo que é de facto a nossa realidade atual.
Reflexão social
Sofremos bastante durante quase 30 anos e estamos agora em um momento de paz, de reconstrução, de muitos esforços e vimos que há pessoas que perderam seus bens, que estão a iniciar o comércio, que estão a iniciar, dando primeiros passos para poder conseguir ter alguma coisa, que estão desempregando outros e, no abrir e fechar de olhos, perderam tudo e neste momento estão sem nada e muita gente, outra vez, no desemprego. Por isso que haja concordância, haja esta convergência de ideias, que as manifestações são sim legais, são importantes, mas devem ser realizadas nos trâmites legais, nos marcos da lei, para que tudo se faça na decência e não na indecência. O que aconteceu durante os dois dias é muito indecente, isso não edifica, não atrai qualquer pessoa que está longe para vir investir no nosso país.
Sabemos que sem investimentos não podemos ter empregos, não podemos ter comida, não vamos ter, digamos, alegria na nossa casa. Por isso o conselho que queremos aqui lançar é que o povo entenda os seus governantes, os governantes entendam o seu povo e procurem conversar. Aliás, porque não é todo o povo que se levantou, uma parte desse povo, e que deve ser, digamos assim, chamada a atenção.
Conselho e solidariedade as famílias enlutadas
Infelizmente, há mortes que devemos lamentar e aqui mesmo também manifestarmos a nossa mensagem de solidariedade. As famílias que perderam seus filhos, suas filhas no sentido de que possam ser consoladas com essas palavras, o Cristo, que é o nosso consumador da nossa fé, saberá no dia do fim resolver o problema da ressurreição. Por enquanto devemos criar um novo ambiente, uma nova forma de viver e que o governo, que é o nosso, volto a dizer, que é o nosso responsável máximo, procure chamar as pessoas responsáveis para conversar, para procurar, digamos assim, entendimentos e que a paz volte a reinar em Luanda e em todas as províncias do nosso país, sem mais, digamos assim, incêndios que venham incendiar o povo, essa é a nossa palavra, o nosso conselho para todos.
Esperamos que, de facto, haja esta compreensão de que não se pode roubar por causa da fome, a fome passa, mas as consequências ficam eternamente. Esta é a nossa palavra, esperamos que assim seja daqui para diante, não volte a acontecer mais actos dessa natureza, porque os taxistas realizaram aquilo que era o seu direito e não se pode aproveitar, digamos assim, desta manifestação legal e levar o vandalismo às ruas, aos mercados, às lojas, aos armazéns, prejudicando tanta gente que está a iniciar, volto a dizer, o seu comércio.
Manifestação sim, vandalismo não
Tudo, às vezes, não ajuda para o entendimento que devemos criar. Então, o povo não pode se dividir no meio, o povo voltar-se contra o próprio povo. Não deve acontecer isso. Se tem um problema, devemos colocar no lugar certo a pessoa de direito para que essa pessoa possa resolver. Quem de direito? É o governo. Quem de direito? O nosso presidente, que nós elegemos com o nosso voto e colocamos ali como nosso servo para nos servir.
Se algo não vai bem, deve haver esse diálogo e entendimento para que, de fato, possa continuar a dirigir, a governar da melhor forma e, nesse sentido, prosperar. Certamente também o povo vai prosperar.
Questão: Há determinadas figuras que também são relevantes naquilo que pode ser a orientação do povo e dos jovens, fundamentalmente, as palavras destas pessoas devem ser palavras com medidas de conselho e que não visam mais estimular a situação?
Sua Santidade: Existem no país figuras que são exemplos para outras pessoas e, sobretudo, aos jovens. Há essas pessoas que têm responsabilidades políticas, religiosas, sociais, a mensagem deve ser, digamos assim, nesse momento em que há incêndio, uma mensagem de reconciliação, uma mensagem de apaziguamento para que os ânimos possam, digamos assim, baixar e, quando baixarem, é aí onde se procurará a conversa.
Quando há incêndio, não se pode conversar, não se pode colocar mais gasolina ou andar a fogo. É preciso que todos nós possamos convergir no conselho, para que as pessoas entendam o momento que estamos a passar e possam voltar à normalidade, à calma, sobretudo, para que haja entendimento.
A polícia também são nossos filhos, nossos sobrinhos, nossos irmãos, que também sofrem na mesma. Por isso, tem de haver entendimento. Quando a polícia sai para poder repor a ordem, deve haver entendimento, deve haver uma conversa, deve haver uma educação para que, de fato, não se elevem os ânimos que estão a provocar mortes durante esse período de vandalismo.
Jornalista: há exemplos de famílias que estão a pedir para que os filhos devolvam os bens, este é um exemplo bom que qualquer pai que estiver nessa situação estimule os filhos a devolverem aquilo que retiraram das lojas?
Sua Santidade: Um bom pai deve ser assim. Quando o filho não trabalha e traz um saco de arroz, traz uma caixa de óleo, deve imediatamente questionar. Nessa situação que estamos a viver, é mesmo bom que o pai e a mãe peguem aquilo que o filho roubou, devolver à loja ou armazém que pertencia, é um bom exemplo para esse pai, será um bom exemplo para essa família, certamente que alcançarão bênçãos de que se guardasse esse saco de arroz ou se guardasse essa caixa de massa alimentar.
É melhor que devolvam. Aos que estão a agir dessa maneira os nossos parabéns significa dizer que em Angola ainda há pessoas e há famílias exemplares e educadas. Devemos, de fato, publicitar esse tipo de atitude para que os outros sigam, não guardarem produtos roubados em casa e alimentarem-se como se tivessem comprado e aquele que pertence está a chorar e vocês comem com alegria. Penso que uma família bem orientada, sobretudo religiosa, não pode permitir que na sua casa entre aquilo que não compraram e puderem, digamos assim, usufruir.